domingo, 20 de fevereiro de 2022

Caminhada dos Boas Solas - PR6 - Rio Marão, 19 fevereiro

 

Por vales por onde tantas vezes se passou nesta vida, mas de carro...
Recordam-se as viagens de travessia do Marão, que faziam tremer os mais corajosos em deslocações obrigatórias naqueles invernos à moda antiga... Só havia a EN15, estrada estreita, curva contra curva pela Serra do Marão... que tantas vezes nos seus maus humores, tudo fechava, com neve, gelo, nevoeiro, chuva torrencial, vento que tudo levava. Recordo um dia de inverno que em regresso durante a tarde já noite de Vila Real, sozinho, fiz a subida para o alto de Espinho no meio de neve intensa, zero visibilidade, estrada gelada, em velocidade reduzida "às apalpadelas" até ao Alto de Espinho. Daqui para baixo...ai o vento e a chuva...nevoeiro, a escuridão, tudo junto, tudo abanava, as correntes de água que da serra caiam arrastando pedras, ramos de árvores... pela estrada abaixo, uma aventura que felizmente acabou em bem.
E para perceberem o que eram aqueles dias... (normais), a camioneta de carreira demorava 4,5 horas para fazer 100 km entre Porto e Vila Real...ou uma reunião em Vila Real com partida do Porto era motivo para 1 dia inteiro de viagem (ida, reunião, regresso e a jorna estava feita!)
Depois nasceu o IP4 que melhorou em muito as condições de circulação, mas mesmo assim ainda sensíveis aos humores da Serra que quando queria, tudo fechava.
E já que não podes vencê-la... uma medida radical: um imenso túnel que contorna a serra pelo seu interior...foi o grande investimento duma nova autoestrada, a A4.
E ao longo destas três vias marcantes se fez a caminhada do PR6 - Rio Marão, muito bem marcado e estimado (parabéns!), percorrendo os vales da Ribeira do Ramalhoso e do Rio Marão desde o Largo da Pinha no centro de Ansiães. Em boa verdade ao longo de quatro vias, pois às três referidas se juntou o caminho ancestral de regresso desde o Alto de Espinho até Ansiães, único caminho que desde a idade média permitia atravessar a serra!
Um percurso que se recomenda (15 km medidos em GPS), fácil para quem está habituado a estas coisas, 800 metros de desnível acumulado, 5,5 horas no total com tempo para merenda na Casa da Guarda no Alto de Espinho, recantos maravilhosos de paisagem dos vales, as levadas de água que foram percorridas, visita ao posto aquícola do Torno, a floresta de árvores centenárias, as ruínas das minas, as vistas imensas para sul e oeste.. 
No fim, o costume dos Boas Solas: momento de confraternização devidamente acompanhado de umas cervejas, bifanas, petiscos e boa conversa no café da Pinha (obrigado menina Paula!).
Mais um regresso à Serra do Marão, mais um dia dos Boas Solas para recordar...

Nota: pelo exemplo merece aqui ser referido este facto! Um dos amigos perdeu a sua carteira ao longo do percurso e no fim uma "batida" infrutífera ao local provável da sua perda foi levada a cabo. Já em casa e já noite, este nosso amigo recebeu um telefonema de um casal de caminheiros que connosco na serra se tinha cruzado, a informar que tinham encontrado a carteira! Boa gente, gente caminheira!