Mais um grande dia para recordar!
Desta vez só uma dúzia de caminheiros mas bons... (os amigos ausentes que me perdoem...) e os suficientes para receber o esplendoroso espetáculo que a nossa Mãe Terra nos dignou dar neste dia. Um dia bonito de sol com uma visibilidade incrível, com temperatura agradável se bem que baixa nas cumeadas pelo leste que se fazia sentir, mas também a dar-nos os sinais que algo não vai bem... Pela serra fora, muitas linhas de água e zonas tradicionalmente encharcadas de água... sem água... Fins de janeiro, em pleno Inverno...
Foram cerca de 14 km que se iniciaram junto ao Parque de Campismo do Merujal a cerca de 890 m de altitude e que percorreram sítios da serra que merecem ser visitados, como o geosítio de S. Pedro Velho a 1070 m de altitude com vista fantásticas 360º, um mar imenso a oeste, a Ria de Aveiro, a noroeste a mancha urbana da região do Porto, a norte o Marão, ao fundo o Gerês, a leste Montemuro, a Estrela, a sul o Caramulo. Ventinho fresquinho e forte não faltava lá em cima, mas as vistas compensavam o sacrifício...
Daí partimos para o geosítio da Pedra Brôa, passando por recantos lindíssimos da serra e próximo da aldeia de Albergaria da Serra, antigamente conhecida por Albergaria das Cabras, local por onde já tínhamos passado numa caminhada épica em 2009.
Depois da paragem técnica para um ligeiro reforço alimentar, pela serra acima avançamos na direção das enormes eólicas, não seguramente com a vontade e velocidade de investida de D. Quixote que se ali estivesse..., voltava a dizer:
Estamos com sorte, muito mais sorte do que aquilo que podíamos desejar. Abre-me os olhos e repara...repara-me para aqueles trinta e tantos desaforados gigantes! Vou-me a pelejar com eles e tirar-lhes a vida. Os despojos pertencem-nos e assim começaremos a erguer fortuna. E boa guerra é, que nada pode ser mais do agrado de Deus que riscar esta raça maldita da face da terra.
- Que gigantes? - interrogou Sancho.
- Aqueles que além vês de braços desmesurados. Alguns medem quase duas léguas de comprido...
- Atente bem, Vossa Mercê. O que se descortina além fora não são gigantes, mas moinhos de vento. E o que parecem braços não são senão as velas que , sopradas pela aragem, fazem girar as mós.
- Bem se vê que és um pexote em matéria de aventuras. São gigantes, que te digo eu. Se tens medo, põe-te ao largo e reza enquanto eu vou entrar com eles em fera e desigual batalha.
Estas palavras não eram ditas, meteu esporas a Rocinante, sem atender às vozes do escuteiro soltava, desesperado a adverti-lo que não havia dúvida alguma serem moinhos de vento e não gigantes quem ia acometer.
...
Fonte: D. Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes Saavedra, versão de Aquilino Ribeiro, 1959, Livraria Bertrand
E com D. Quixote, Sancho e Rocinante em pensamento, pois são "coisas" da costela..., lá cheguei à cumeada da serra onde se erguiam os famosos gigantes...
Alguns amigos para trás ainda na subida, outros mais à frente já "dependurados" nos abismos, no obrigatório miradouro do Detrelo da Malhada, a 1100m de altitude onde acaba a serra a norte e começam todas as "terras dos humanos", cidades, vilas, aldeias, vales do Douro e do Ave e por aí fora. Uma paisagem de sonho a perder de vista, o mar sempre a oeste lá ao fundo, como é bom estar nas alturas...
E daí, foi já o caminho do regresso até ao local de chegada, onde chegamos 5 horas depois da partida para momentos de relax, boa conversa e picnic para comemoração de mais um dia fantástico e brincar com a autonomia de carro elétrico citadino de nosso amigo, que por muito pouco ficava na serra...
E venha a próxima caminhada, haja saúde que a vontade e a amizade muito abunda!
E como sempre dizemos, Bom Ano!
S. Pedro Velho
Detrelo da Malhada
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