quinta-feira, 21 de setembro de 2023

A nossa vida... "Ítaca"

Ítaca (1911)


Quando começares a tua viagem para Ítaca,

reza para que o caminho seja longo,

cheio de aventura e de conhecimento.

Não temas monstros como os Ciclopes ou o zangado Poseidon:

Nunca os encontrarás no teu caminho

enquanto mantiveres o teu espírito elevado,

enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo.

Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros

a não ser que os tragas contigo dentro da tua alma,

a não ser que a tua alma os crie em frente a ti.

Deseja que o caminho seja bem longo

para que haja muitas manhãs de verão em que,

com quanto prazer, com tanta alegria,

entres em portos que vês pela primeira vez;

Para que possas parar em postos de comércio fenícios

para comprar coisas finas, madrepérola, coral e âmbar,

e perfumes sensuais de todos os tipos -

tantos quantos puderes encontrar;

e para que possas visitar muitas cidades egípcias

e aprender e continuar sempre a aprender com os seus escolares.

Tem sempre Ítaca na tua mente.

Chegar lá é o teu destino.

Mas não te apresses absolutamente nada na tua viagem.

Será melhor que ela dure muitos anos

para que sejas velho quando chegares à ilha,

rico com tudo o que encontraste no caminho,

sem esperares que Ítaca te traga riquezas.

Ítaca deu-te a tua bela viagem.

Sem ela não terias sequer partido.

Não tem mais nada a dar-te.

E, sábio como te terás tornado,

tão cheio de sabedoria e experiência,

já terás percebido, à chegada, o que significa uma Ítaca.


Poema do poeta grego Konstantinos Kaváfis, (1863/1933) traduzido por Jorge de Sena

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